quarta-feira, fevereiro 11, 2009

20+20


O tempo chega, implacável. Mas a gente enfrenta o dragão com as armas que temos. As minhas são as aulas dadas com o coração e ouvido (poucos sabem ou têm tempo para ouvir os alunos), o esporte que é mais que o alimento diário, a loucura por meu time, o rock que espanta as tormentas de ontem e hoje e as ondas. Por isso, no último dia 9 de fevereiro, 20+20 anos completados, o melhor presente que poderia ganhar seria o mar. Por isso fugi pra lá. Para esconder em cada onda, drop e passeio azul os fantasmas que se acumulam lá dentro. Esconder, não, mandar pro espaço. Por mais que a data seja triste quando não temos com quem compartilhar, mágicas são as ondas que nos transportam para outro mundo. O mundo de Benjamin Button e Peter Pan. O mundo em que a cada deslizar e manobra no infinito playground azul nos faz rejuvenescer, pelo menos na alma.
Depois de noites mal dormidas, praxe numa Sampa cheio de ruídos e vizinhos mal educados, entrei no mar na 2ª. feira, após descer a serra, já cansado, cada remada pesando um pouco. Mas bastaram algumas ondas e a energia foi sendo recarregada em meu pico local querido. Assim foi a primeira bateria. No mesmo dia, estrada de novo até a cidade praiana onde dou aulas nas terças e para onde chego na véspera. Ali a surpresa: na cidade mais velha do Brasil, no pico mais paz e astral que conheço, ondas de sonho longas, lisas e de bom tamanho (santa frente fria). Logo o cansaço de dias e da primeira queda da manhã desapareceram e aproveitei com a fúria e alta voltagem de como se estivesse 100% após dias e dias de bom sono e tranquilidade. Foi o maior presente que podia receber e só tenho a agradecer ao bom barbudo, Netuno, pela sessão com gosto de bolo de aniversário ao lado dos amigos de fé e da mulher dos sonhos. Os sonhos que pelo menos o mar sempre entrega quando mais preciso. Os sonhos e a mágica porque numa idade em que muitos já estão desistindo ou partindo pro pranchão (outra arte, mas talvez sem a sensação de fúria alucinada de viver que a pranchinha propicia) ainda consigo remar fácil e acelerar em alta velocidade à bordo de meu foguete feminino chamado Rafinha, 6´2 de pura vida, minha égua de corrida puro sangue, minha companheira fiel. Sim, 20+20, mas feliz por seguir surfando enquanto ex-parceiros de ondas praticamente já desistiram e têm o surfe apenas como uma atividade ocasional.
Como podem ir deixando o surfe?
Como podem ir deixando de viver?
Obrigado, ondas sempre da vida, por resgatarem o sorriso de um coração adormecido.
Obrigado por me manterem acreditando que é possível, sim, parar o tempo, a cada onda que pegamos, em segundos que parecem horas, nesses momentos em que derrotamos o senhor do curso da vida com a ajuda da grande arma chamada oceano.
Ao mar.
À vida.
Ao surfe, 4 ever.
Forever young.

4 comentários:

  1. é isso zélão arrepiou
    forever young

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  2. José Augusto de Aguiar Costa,
    Li esse texto no intervalo do trabalho, e me emocionei muito cara. Esse é o melhor post teu desde que acompanho tuas postagens sobre surf, e olha que ser o melhor é porque foi realmente muito bom, pelo nível de seus textos. Parabéns pelo seu aniversário, cara, e obrigado por escrever dessa maneira. Poucos têm o privilégio de ler, e acho que menos ainda tem o privilégio de entender isso, ainda mais sem te conhecer pessoalmente. E o vídeo, a música, parece que foram feitos sob medida para esse teu post. Cara, já te citei esses dias de novo lá no blog e acho que em breve vou citar esse texto aqui. Um grande abraço,
    Gustavo

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  3. Daí Zé, 4.0 com motor turbinado... Nada mal.
    Parabéns, meu camarada. Seja bem vindo aos ENTA.

    Abração, mesmo que atrasado.
    MB

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  4. Zé,
    vc é que nem vinho, quanto mais velho, melhor!!!

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