Uma
das canções da vida. Ou melhor, que nos faz lembrar de pedaços essenciais mas
soterrados, até interrompidos, dela. Música-tema de St. Elmo´s Fire (O Primeiro
anos do resto de nossas vidas, com Demi Moore ainda menina e cia juvenil
estrelada). Os instrumentos iniciais (violino?) são um passaporte para o
passado. O tecladinho soa como velhas fotografias de rostos e corações que não devíamos
ter esquecido, jamais. A
bateriazinha de leve nos lembra de abraços, sorrisos, do jeito iluminado com
que olhávamos os amigos e vice versa.
Por
que a vida nos separou? “Ah, o tempo, os caminhos, as famílias...” que cada um
criou ou ainda tenta criar. Ou a dureza dos que mudam demais e esquecem de como
eram melhores, mais humanos, quando garotos e meninas.
A
profundidade do piano e a o sax expandem a canção e nos levam de volta às
fotografias de momentos inesquecíveis, da pureza de amigos e amigas que um dia foram nossos irmãos de sonhos, viajando juntos nos sonhos
fundamentais dos 15 anos: as musas impossíveis, os pequenos grandes feitos, as
pequenas partidas de colégio que transformávamos
em finais de Copa do Mundo (quem não lembra de uma grande vitória na quadra da
escola onde um dia você sonhou, viveu, sorriu e sofreu, esquece algumas das
maiores emoções da vida). As viagens com a turma, as festinhas, as piscinas, o
mar, o lago, as águas que corriam mais puras e inocentes. As águas que corriam
intensas e emocionantes como o sangue da juventude de atitude.
Volta
o tecladinho, a dedilhar com suavidade o menino ou menina quem um dia fomos,
jovens em tempos mais reais, onde festas era marcadas de boca em boca, em que
conversas eram anunciadas com um toque na campainha de nossas casas ou um grito
nos chamando.
Eram
tempos em que o amigo, em vez de mandar mensagens via computador ou celular, surgia
do nada (do tudo, de seus corações) batendo em nossa porta, sem avisar mas
sendo bem recebido.
Eram
tempos de papos intermináveis à beira da calçada de frente para ruas
tranquilas, livres de tantos carros ou da gente nervosa, apressada e mal
educada de hoje. Eram rolês de bike sem capacetes, com as orelhas mais livres
para escutar o mundo imenso que sentíamos e imaginávamos quando moleques, e sem
roupinhas especiais. Pedalávamos com a mesma roupa com que jogávamos bola ou taco
na rua. Pedalávamos por ruas e tempos menos consumistas e neuróticos, mais
calmos e humanos.
Eram
tempos de ligações mais simples e profundas. Não lembro de falar ou ouvir a
palavra “conexão” quando garoto, mas tenho certeza que os amigos eram muito
mais conectados na era dos gritos na porta de casa e nos rolês a pé ou de
bicicleta em pleno fim de semana (é, acho que tínhamos muito menos lições de
casa no passado, talvez os professores e as direções de escolas soubessem
ensinar o essencial em vez do massacre conteudista cada vez maior de hoje).
Tínhamos
tempo livre de verdade. Éramos mais livres para sonhar e viver. Vivíamos na
rua. E não me venham falar de que hoje há muita violência, mais carros etc. Sim,
é verdade, mas ainda existem muitas ruas, praças e parques onde se pode crescer
e viver sem medo. Pena que a paranoia dos pais ou o excesso de atividades em
que enfiem seus filhos acabe com a adolescência hoje.
A
adolescência e juventude que parece ter ficado no passado, como no maravilhoso filme
St. Elmo´s Fire, em que os amigos,
sonhavam, ajudavam-se e, sobretudo, ficavam juntos.
Eram
outros tempos.
Eram
outros humanos.
Mas
graças que alguns resistentes ainda lembram de filmes e canções como essa, como
a velha amiga dos anos incríveis que postou essa canção hoje cedo no Facebook.
E
graças que ainda existem, nos corações de quem sabe encontrar a companhia e
amor certo, romances como o desse filme que marcou os românticos dos anos 80.
Graças
que, mesmo se a mágica dos 15 anos não volta, ainda é possível cultivar uma
pessoa como cultivávamos os jardins incomparáveis dos amigos dos 15 anos.
Se
os amigos desapareceram na cinza poeira do tempo, ou no poço sem fundo (sem
volta?) dos que mudaram por questões de grana e status, cuide de sua parceira
ou do seu companheiro com o mesmo cuidado, alegria e entusiasmo com que regavam
os moleques e meninas dos anos mais mágicos da sua vida.
Quem
sabe, fazendo isso, e exercendo a arte esquecida do romance no amor, você não
lembrará do amor tão belo quanto: o amor que se irradiava dos amigos e amigas
do peito que não apenas se curtiam, mas celebravam a vida juntos.
Texto
dedicado aos que se sentem bem demais quando a esposa ou namorada encosta a
cabeça nos nossos ombros no cinema vendo um filme que celebra o amor ou a parcela
diminuta, mas combativa, da humanidade que ainda luta por um mundo melhor.
PS
– Quem vai agitar uma festinha pelos bons tempos??? Ou quem é que vai começar a
bater um fio, telefonar para os velhos amigos, em vez da frieza e fugacidade
dos posts virtuais?
Nunca
é tarde para resgatar a pessoa sensacional que você um dia foi.
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