As
grandes ondas são parecidas com os relacionamentos ou a solidão humana em seu
lado mais triste: a falta de companhia. Às vezes não conseguimos chegar até elas
sozinhos. Falta algo essencial em uma
boa aventura marinha: os amigos.
Sábado
o mar rugia anunciando o finalzinho do verão e a chegada do outono, o início da
temporada de ondas grandes. O oceano chamava para uma daquelas sessions épicas,
mas faltou braço e estímulo para varar a arrebentação distante numa maçaroca de
ondas já arrebentadas uma atrás da outra. O jeito foi desistir, e com sorte,
pegar uma boa e única parede na zona intermediária. Solitária onda que me
deixou, porém, frustrado. Sempre ficamos quando não chegamos na porta de
entrada da catedral marinha, o outside.
Só o
longo passeio, de mãos dadas com a mulher amada, de frente para o mar e sob um
pôr-do-sol suave e de belos tons do outono próximo, amenizou um pouco a falta
de ondas. Mas o déficit de surfe sempre deixa nosso tanque de vida menos cheio.
De
noite, a boa notícia chega pelo celular. Era a mensagem só possível em um amigo
fiel, aquele que não precisa conversar antes de anunciar: “amanhã cedo estamos
colando aí pra dar uma queda.”
Bem
aventurados os que têm um brother assim. Não é preciso combinar nada, não é
preciso marcar, ligar pra acertar as coisas. O brother de fé apenas
anuncia que está a caminho. E eles sabem que surfar sozinho sempre deixa um
vazio e muitas vezes, arruína uma session como a minha do sábado.
E pra
melhorar ainda mais, o brother fiel não embaça: ele madruga e chega cedinho.
Tava ainda na cama quando o telefone tocou, ele já tava na praia, só pegaria a
prancha do outro brother ali num apê próximo.
Ainda
com um copo de leite quente na mão escutei a buzina. O irmão, o velho parceiro
chegou. Logo estamos passando parafina nas meninas. Logo estamos na praia.
Sim, a
cena é furiosa. Netuno ruge firme. O liquidificado gigante do sabadão deu uma
diminuída, o mar deu uma acertada, mas a arrebentação segue distante pacas.
Sabemos que a remada vai ser insana, até pensamos que não conseguiremos chegar
lá atrás, mas não sentimos isso. Porque brothers juntos, de alguma forma, por
alguma ligação poderosa, sabem que conseguirão.
A
entrada já é dura, a temperatura da água já é a fria da próxima estação. A
paisagem toda branca, de um mar de ondas grandes estouradas, é uma dura
barreira. A remada é uma odisseia para meu ombro esquerdo lesionado há meses e
para a lombar direita também machucada há tempos.
O sal
é remédio, a água é terapêutica, os amigos são os guias a me estimular. Eis
então que o amigo tranquilo dispara lá na frente, parece ter descoberto uma
brecha numa breve pausa da fúria marinha. Percebo a chance, dou um gás. A
dificuldade para mergulhar debaixo das bombas estourando vai amainando. Pouco
depois encontro a segurança do outside, a zona mágica antes das ondas
quebrarem.
Ficamos
lá, eu e o amigo tranquilo, quase zen, à espera das séries e do velho brother.
Nem sinal dele. Deve estar na zona cega das ondas estourando na cabeça e
forçando um recuo natural.
Alguns
minutos depois o velho amigo desponta. Rema devagarzinho como se caminhasse num
caminho santo com um cajado na mão. O ritmo vagaroso era exaustão e então eu e
o brother sossegado demos aquela boa risada meio aliviada e meio sacana, “olha
lá o Velho, tá mortinho, remando feito um velhinho”.
Logo
éramos os três amigos juntos de novo. Juntos, felizes e orgulhosos de terem
vencido a famosa remada-estrada sem fim de nossa praia local, famosa por sempre
cobrar um preço caro para nos entregar o paraíso do outside.
Bom, o
paraíso pode ter suspiros de inferno: a primeira série cavernosa se aproxima.
Em vez de botarmos pra baixo, deixamos as morras passarem e damos risada do
tamanho delas e de nossa falta de coragem.
As condições
estão difíceis de entrar, perdemos outras séries mas não o bom humor, um
sacaneando a remada sem sucesso do outro, encerrando a frase com “ainda bem que
você não entrou, ia tomar uma vaca...”
Os
amigos juntos logo espantam a apreensão e o receio. Nos dão confiança e a
certeza de que olharão por nós.
Logo
conseguimos pegar algumas bombas e ficamos mais tranquilos também ao descobrirmos
que as ondas não estão desabando, mas sim quebrando aos poucos, permitindo nossos
erros sem que nos engulam.
Logo
estamos todos renovados e logo esquecemos o tempo. As horas passam e curtimos
uma das mais longas sessões dos últimos tempos. E curtimos esse aumento dos
laços de amizade que uma session inesquecível sempre produz.
Graças
às morras desse fantástico Big Sunday.
Graças
à vontade de surfar e viver, juntos, dos Brothers.
Em primeiro lugar, remando como um velhinho o car...... hehehehehe. Dito isso, realmente a "menina" fez mto charme nesse domingão, como sempre precisamos chegar com jeito, conquistá-la. Essa session foi pra lavar a alma, há tempos que não ia surfar, e principalmente, curtir com os irmãos dentro do nosso templo, bater um papo, dar risada um do outro, zuar que não está presente hahahahaha. Valeu Zé, Velho.
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