Uma lição sobre onde está a vida que perdermos ao não sair
de casa, dos mesmos lugares de sempre, do micro, do celular e outros hábitos
alienantes. É isso o que oferece a bela entrevista com o cineasta Walter Salles
- sobre o filme On the road (Na Estrada) - na revista Época. Como não está
disponível no site da revista, reproduzo alguns trechos e uma mentira. O título
da entrevista é uma frase que Salles não disse: “Os jovens não são mais
conformistas”. A seguir, a pergunta e resposta sobre isso:
ÉPOCA - Os jovens hoje são mais conformistas ou estamos
entrando numa outra onda de contestação?
W. SALLES - Experimentar tudo na primeira pessoa colide com
a ideia de experimentar por procuração, em frente à tela de um computador ou em
frente à televisão, assistindo a um programa de teleirrealidade. O livro (On
the road, saga de liberdade e experimentações dos poetas e escritores beat nos
anos 50) é um pouco uma vacina contra esse imobilismo. Movimentos recentes,
como a Primavera Árabe, os indignados na Espanha e as manifestações como Ocupem
Wall Street revelam um desejo de transformação da sociedade. Hoje o clima é bem
diferente dos anos 1980 e 1990...
Ou Seja, o que Salles disse é o que os jovens estão menos
conformistas que as gerações dos anos 80 e 90, mas ainda há muita apatia e
alienação, como ele revelou ao falar dos jovens que ficam em frente das
telinhas, sem experimentar e vivenciar a vida real. Sobre isso, Salles revela
em uma de suas repostas que “experimentar é a única forma de desenvolver uma
experiência crítica. E afinar sua visão de mundo”. Esta frase é uma paulada na
juventude que não sai de casa, do quarto, do carrinho do pai e mãe e do
shopping, e ainda passa horas mergulhada em seus aparatos tecnológicos sem
olhar ao redor e perceber as pessoas e o mundo.
A vida sentida na pele é a essência do livro e filme On the
road, e Salles caiu na estrada também com sua equipe e atores para fazer o
filme (antes ele ainda fez um documentário sobre o mesmo tema) e ele revela
como essa experiência foi decisiva em sua carreira de cineasta:
ÉPOCA – O senhor fez Central do Brasil, Diários de
Motocicleta, sobre Che Guevara, e agora Na estrada, sobre Jack Kerouac e a
cultura beatnik. Todos road-movies. O senhor se considera mais um cineasta ou
um viajante?
W. SALLES – (...) Toda vez que você se distancia do ponto de
origem, você ganha maior perspectiva sobre quem é, de onde veio e eventualmente
quem você quer vir a ser...
Ou seja, galera, quem ficar preso aos mesmos lugares,
hábitos e imobilidades; quem não viaja e não sai de sua cidade, nunca vai ganhar
uma dimensão e entendimento maior de seu país, mundo e da própria vida.
Portanto, pé na estrada, ou na rua. Um bom começo para um paulistano é pegar o
metrô, dar uma caminhada pelo entorno das estações e as exposições riquíssimas
que rolam em várias estações. Sai da net, sai de casa, a vida não é um programa
de busca de notícias.
A busca real é outra coisa, bem mais gostosa, rica e
verdadeiramente viajante.
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