Por mais que a vida seja um fio frágil suspenso num trapézio altíssimo – é muito fácil arrebentá-lo; acertar ou errar, cair, dar o passo errado – há algo imutável e inquebrantável na alma dos homens de verdade: os fios artesanalmente tecidos, com as linhas mais belas e fortes chamadas amizades do coração.
Amizades que vêm da infância, época da vida em que se sonha e se chora junto porque há sempre um ombro, uma palavra, um olhar ou gesto amigo nos amparando. Bróder é exatamente isto: uma celebração das amizades mais fiéis, dos manos que bateram bola juntos num campinho de terra esburacado quase sem terra.
Manos que curtiram as festas, os botecos e piraram nas mesmas minas – por que amigos do peito quase sempre se encantam pelas mesmas meninas?
Manos que um dia tiveram que tomar rumos diferentes e por isso se afastaram, mas jamais se esqueceram.
Broder é a história desse reencontro. Pibe saiu da favela do mas segue lutando para sobreviver com poucos recursos num pequeno apartamento em cima do Minhocão, esposa e filho pequeno e muitas incertezas. Jaiminho se deu bem, o sonho da bola deu certo e ele fez fortuna e fama na Europa. Macu (visceral interpretação de Caio Blat, o cara parece mesmo um mano da periferia em qualquer característica; no físico, gestual, linguajar, até na mente que oscila entre o sorriso e a raiva, entre a esperança e o medo) ficou. Continua junto da rara camaradagem e vizinhança que se conhece e se cumprimenta nas vielas do imenso Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Mas continua também perto demais do outro lado: o crime que espreita sem parar quem precisa de dinheiro ou oportunidades “fáceis”.
O reencontro vai se dar no aniversário de Macu. Feijoada, pagode, samba, bolo caseiro; comidas que nenhum restaurante fino poderá igualar, mesmo se o arrogante empresário de Jaiminho acha que é muito melhor ele ir comer no Le Jardin, algum típico templo caríssimo da zona mais nobre – e esnobe, de São Paulo. O samba e o pagode? Mesmo quem não gosta vai finalmente entender a preferência da boleirada e galera da periferia pelo estilo alegre, um sopro bom, divertido e sensual – há sempre uma mulher sexy dançando - num ambiente cada vez mais duro.
Mas há o lado errado farejando como um franco atirador covarde escondido num telhado. Há a dívida de Macu. Há o sucesso de Jaiminho a incomodar a bandidagem, não importa se o craque cresceu ali, sonhou e sofreu no Capão antes da vida lhe dar uma chance.
Há as roupas, o relógio e o super carro do craque. Há o rap, que entra na trilha sonora do filme quando os três amigos fogem um pouco do Capão e escutam “Fim de semana no parque”. Há a catarse dos amigos que se reconhecem cantando juntos de novo uma das canções da adolescência. Mas lembremos, é rap, é Mano Brown quem canta. A canção só pode ser sobre uma dura divisão: a realidade da quebrada contra a vida mais fácil e o luxo e consumismo do lado de fora (e de dentro dos muros).
Onde há rap, quase sempre há a história de um conflito. Bróder poderia descambar para o típico banho de sangue fácil dos “favela movies” como Cidade de Deus, mas lembremos: este é um filme sobre três amigos, sobre o sentimento que nenhum criminoso conseguirá comprar: a amizade indestrutível de três meninos-jovens-homens quem um dia cresceram e sonharam juntos no Capão.
Sim, o perigo do crime ronda feito caçador de recompensas impiedoso. O sucesso de um e o fracasso dos outros incomoda demais, mas Macu, Pibe e Jaiminho, mesmo agora em vidas tão diferentes, um dia foram amigos do peito na infância. E isso o coração não esquece.
O coração, aquele que nem a distância ou a morte apaga.
O coração amigo, este o grande alicerce deste filme que nos faz acreditar que os sentimentos mais nobres ainda conseguem enfrentar o tanto mal e indiferença que se proliferam mundo afora; ou no cotidiano que nos afasta dos antigos parceiros.
Bróder é um daqueles raros filmes que têm seus momentos duros e impiedosos, mas também nos faz acreditar.
Bróder não. Mano. Esta a palavra mais exata, porque ser mano é ser paulistano, é ser brasileiro, é portar uma palavra e um sentimento mais fiel ao que ser irmão de coração de alguém quer dizer.
Zé esse filme esta no cinema ou para alugar? Faltou dizer onde podemos assistir hehehehe... Grande abraço! Remo
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