
Foi no meio de Let There Be Rock, quando ele começou a solar com o vigor e paixão de um moleque. Perdão, acho que um moleque de hoje, seduzido por bobagens comerciais como falsas guitarras de videogame, demorará a entender como Angus Young, 54 anos, ainda faz de sua guitarra uma tempestade juvenil sonora avassaladora. Uma tempestade apaixonada, bela e furiosa. Toneladas de TNT em forma de acordes, riffs ou esse solo muito mais que endiabrado que o menino de 54 anos ofereceu nesta histórica noite de sexta-feira. Foi no meio de Let There Be Rock que os antigos amigos de escola forjados em rock and roll de verdade, hoje quarentões, sentiram os olhos lacrimejarem. Porque Angus e seu AC-DC, mais que oferecer uma maravilhosa volta ao passado de tudo o que já fizeram pelo rock, nos deu a certeza de que o rock é eterno. Que a emoção é eterna. Ou não foi isso o que eles provaram quando ele elevou-se aos céus junto do palco móvel e simplesmente arrebatou como nunca antes um estádio do Morumbi lotado?
Sim, não vi Freddie, Brian e seu Queen em 1980, mas estive em muitos shows ali, e ninguém antes fez um metaleiro quase chorar no meio de um solo de guitarra. Ninguém antes, munido de uma guitarra e um espírito juvenil alucinado (mesmo com 54 anos...) fez o público entrar em transe como Angus. Sim, já o vira em pleno Rock In Rio I, em 1985, e ali estava no auge, mas o que a paixão dele fez na sexta-feira entra direto para uma das maiores entregas de um artista na história da música. E olha que falo de apenas um momento, dos minutos de solo durante uma canção-hino. E olha que ainda houve muito mais nesta noite em que o vendaval que ameaçava cair no Morumbi enfiou o rabo entre as pernas para permitir que a verdadeira tempestade – de eletricidade roqueira genuína – prevalecesse.
Foi assim que Angus e o AC-DC desabaram seu temporal inesquecível de rock pesado que jamais será esquecido pelos privilegiados desta noite de 27 de novembro de 2009. Desta noite em que a maior chuva do mundo desabou das cordas de Angus e Malcom, da batera de Rudd e da voz de Johnson.
Vai chover assim na p... !!!!! e quanta verdade nas palavras de outro hino, “TNT, I´m Dynamite!!!!!”
E quem quiser ler um excepcional artigo sobre outros segredos do sucesso eterno da banda, leia o texto do grande crítico Jotabê Medeiros, do Estadão, no link abaixo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091130/not_imp474058,0.php


PS - Se um tal de Hernanes tivesse um décimo da garra do AC-DC, meu time era hepta com sobra... Só que ele desconhece isso e prefere acreditar que é craque. Craques de verdade têm alma, como Angus. Craques não fazem frescuras, apenas tocam sua guitarra e bola como se o mundo fosse acabar amanhã, no meio de um solo ou grito de gol. E, sobretudo, craques de verdade arrebentam na hora da verdade, do grande show ou grandes decisões.