Opa, moçada, o pão na chapa mudou de padoca.
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PÃO NA CHAPA
quinta-feira, maio 30, 2013
quinta-feira, abril 18, 2013
Um pôr-do-sol infinito chamado Rogério Ceni
Ninguém se despede
de um grande amor lentamente. Só o atleta que chega naquilo que os antigos
chamavam de “o ocaso de uma carreira”.
Nenhum grande amor termina
de forma tão dolorosa como a do grande ídolo que vai partindo, porque sente que
o fim está chegando.
Sente a dor em cada
músculo; em cada pé, joelho, ombro e braço que se machuca e não se recupera
mais facilmente como antes. Agora a dor demora a partir e o ídolo, grande que
é, apaixonado que é, não vai esperar a dor ceder.
Porque a dor de não jogar será maior perto do fim. Rasgará a alma de quem está cruzando as últimas curvas.
E pesa ainda a
responsabilidade de ser amado. O grande ídolo não quer se ausentar em seus
últimos momentos, em seus últimos jogos, em seu últimos campeonatos.
Não quer magoar seu
grande amor: o distintivo que bate no meio do peito dos que torcem por ele. Um
distintivo que é, para o ídolo de verdade, a mesma coisa que o torcedor que o
ama com respeito e gratidão.
Por isso é tão duro
quando o grande ídolo escuta o burburinho sinistro de algumas críticas que vêm
de onde ele menos esperava: daqueles que amava. Daqueles que o amavam.
Nada é mais belo
que o amor. Mas nada dói mais que o amor que nos abandona, que não nos ama
mais.
Nada é mais duro que
jogar-viver machucado e falhar. Porque o ser humano perde o respeito ou desama
com facilidade. Não importa a muitos que alguém está lá, no sacrifício,
jogando-defendendo por eles. Importa que esse alguém falhou.
Não foi no jogo
contra o Strongest, na Bolívia, que Rogério falhou pela primeira vez em um jogo
decisivo. Houve outras falhas antes, raríssimas, mas houve. Não foi a primeira
vez que ele foi criticado por quem antes só o venerava. O caso é que a crítica,
quando perto do fim, costuma ser ainda mais dura, porque vem acompanhada de uma
cobrança cruel: “Está na hora de se aposentar”.
Os críticos não
ligaram se ele se machucara feio contra o Corinthians.
Os críticos não ligaram
para a sua história, tão grandiosa que parece lenda.
Ele ligou. Ele
sentiu o baque.
Pior: temeu
encerrar a carreira de forma deprimente, eliminado em sua própria casa do
campeonato que sempre foi sua paixão eterna como se fosse aquele mesmo garoto
sedento de glórias que esperava uma chance para substituir outro grande
goleiro, Zétti.
Ocorre que a vida
dos grandes personagens costuma não se encerrar de forma melancólica. Ocorre que há
algo lá em cima, para os que creem; ou algo que vem do coração energético do
mundo, para os céticos, que não aceita que histórias maravilhosas como a deste
homem do número 01 às costas acabe desta forma, de repente, como uma bomba que
dá chabu ou uma paixão que não se torna amor.
Ocorre que as
forças ocultas, mas presentes da humanidade, tecem a vida dos grandes como uma história fantástica,
um conto de fadas, uma lenda.
Ocorre que mesmo
quando o grande ídolo estava rodeado de um grupo então apático, derrotado,
condenado, eis que a sua alma e poder contagiou seus companheiros, e o amor dos
milhares que amavam de verdade o seu distintivo também fez a sua parte.
Ocorre que um atacante
sem muitos recursos técnicos, mas com uma garra e valentia monumental,
disputava cada bola como se sua vida dependesse dela.
Ocorre que junto desse
possuído corria um baixinho que enfrentou todas as privações e dores que significa
ser uma criança pobre no Nordeste miserável.
Ocorre que o
baixinho que venceu seu destino, Osvaldo, enfiou um passe de mágica para
Aloísio.
Ocorre que o
atacante sempre possuído como seu apelido, Boi Bandido, matou a bola no peito e
preparou-se para marcar, mas foi derrubado. Pênalti.
Ocorre que ele, o
homem que se despede lentamente de seu grande amor, começou a caminhar
lentamente da sua meta, do seu lar, do seu amor, da sua fortaleza, até a muralha
inimiga; a muralha que jamais teve medo de enfrentar porque um dia,
revolucionário, decidiu que não apenas evitaria gols, mas os marcaria.
Ocorre que um
estádio inteiro, em seu Morumbi, e outros estádios inteiros, no coração de todo
são-paulino que não pôde ir ao jogo, cantaram, gritaram e bradaram o seu nome.
Ocorre que enquanto
ele se ajeitava para cobrar o pênalti que só ele poderia cobrar, porque só ele
teria a coragem de cobrar, o mundo inteiro de sãopaulinos ficou com os olhos
cheios e subitamente sem voz ou respiração.
Ocorre que alguns
de nós, sim, temíamos pela injustiça dele falhar e ser considerado o
responsável por uma despedida que não seria apenas de nosso time, mas dele
mesmo.
Ocorre que ele
jamais duvidou.
Por isso ele
caminhou de novo lentamente para a bola, talvez porque só lentamente que ele e
nós poderíamos relembrar tudo o que ele já fez, todas as defesas, todos os
gols, todos os títulos, todo o filme ou na verdade, série de filmes que ele
viveu em sua carreira tão longa que parecia infinita, ainda parece.
Por isso ele de
novo cerrou todos os músculos de sua face antes de, quase parado, bater na bola
com a decisão, calma e querer do homem que deseja e precisa falar algo para sua
amada pela última vez.
Por isso ele marcou
de novo.
Porque um grande
amor, como o grito dos radialistas,
Rogériooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
... não termina
nunca.
sexta-feira, abril 05, 2013
Adeus, raio de sol de nossas manhãs
Raras vezes
conheci uma menina tão doce, delicada, linda, e com um sorriso tão belo, da cor
dos seus cabelos dourados. Era como se o
sol penetrasse em plena sala de aula para nos aquecer e abraçar. Porque Camila aparecia
pra gente sempre assim: mesmo quando ainda despertando e preguiçosa nas primeiras
horas da manhã, sua presença, um breve olhar seu, era um abraço espontâneo e
natural, sem receios, sem guardar sentimentos, sem se calar, como o sol que
deveria nascer com a chama afetuosa do sorriso dela todas as manhãs.
Foram poucas
manhãs junto dela como seu professor, ficou apenas um ano com a gente, e por
isso sentimos tanto a sua ausência solar, nossa menina dourada, nossa menina pão
de queijo, alimento afetuoso de todas as manhãs.
Nossa menina
poeta, delicada no trato das palavras, jardineira de palavras-sentimentos,
sempre plantando um pouco de amor e amizade nas linhas de suas folhas de
caderno. Sim, ela demorava a entregar as redações e eu a cobrava, pois tinha
saudade de seu jeito artesã de escrever, como se cultivasse flores.
Na verdade, era
a própria uma flor, meio girassol – do sorriso; meio margarida – pela delicadeza,
sensibilidade e simplicidade, por não ser do tipo que se guarda ou se esconde.
Camila, a também
menina viajante que às vezes sumia num mundo só dela em plena aula, talvez
sonhando, talvez pensando, mas sempre
tomando um susto engraçado quando a trazíamos de volta, e ela ficava sem jeito.
Sem jeito
ficamos nós, porque agora falta em nosso jardim uma das flores mais belas,
especiais e essenciais. Sim, há tempos que não a via, há tempos que não sabia
dela, mas sei que os que ainda eram tocados por suas pétalas, aroma, alegria,
doçura e sapequices perderam uma das luzes mais reconfortantes e vitais de seus
jardins de amizade e amor.
Vai, querida,
descansa em paz e, por favor, continue junto de seus amigos e amores, continue
a bater suas asas por nós.
E pode deixar
que sempre que conseguirmos perceber o sol nessa cidade tão cinza, vamos saber
que é você, lá de cima, que sorri para nós.
Adeus, querida,
e meu Deus, por favor, acolhe com carinho essa breve fada que passou por nós.
PS - Meus queridos ex-alunos e ex-alunas queridas. Nunca deixem de se ver, façam o que a Camila sempre queria: encontrem-se, amem-se, não deixem as novas vidas acabarem com as amizades maravilhosas que fizeram nos anos mais puros e belos da infância e adolescência.
Fugir para se encontrar
Fugir é sempre
uma decisão arriscada, mas pode ser essencial para nos encontramos com a nossa
essência, verdades e sonhos mais profundos. Sonhos que só viram realidade se
botarmos o pé na estrada. Essência e verdades que muitas vezes só redescobrimos
quando confrontados com as surpresas da estrada, com os novos lugares, pessoas
e experiências que surgem em nosso caminho. Dois pequenos grandes filmes
mergulham nesse tema com beleza e poesia, o brasileiro A Busca e o francês Sejammuito bem-vindos.
A Busca narra a fuga de Pedro, um adolescente
incompreendido pelo pai autoritário, Theo, e não motivado por uma mãe
aparentemente fraca e triste. Foge também do tormento dos pais separados que
ainda se amam mas só brigam e não conseguem viver juntos, muito menos se
respeitar. O menino foge também em busca do avô ausente, que não conhece, mas é
artista como ele. Sim, Pedro desenha demais, mas tanto o pai sempre cobrando
seriedade ou a mãe sempre tristonha não percebem o dom e paixão do filho.
O início tenso
e pesado da família em cacos logo ganha o brilho, surpresas e descobertas da
estrada. É nela, em estreitas estradinhas e terra ou nas águas de uma represa;
entre a cidade, as montanhas e a praia que o menino desaparece e o pai sai em
seu encalço.
Aqui A Busca foge do habitual drama dessa
temática do pai desesperado atrás do filho que sumiu. Em vez de violência
(filmes do tipo mostram quase sempre crianças ou adolescentes raptadas e
sofrendo todo tipo de privação e tortura psicológica) e drama policial, o diretor
do filme, Luciano Moura, narra a história de um pai, Theo, se reencontrando com
o jovem que foi um dia, e conhecendo melhor o filho pelos rastros que o garoto
deixa na estrada.
Um trecho em
especial faz o pai superar seu jeito metódico, conservador, insosso e frio -
daqueles que pedem água num jantar com a mulher amada. Ocorre quando Theo
cruza com um grupo de uma juventude bela e livre em um festival de música meio
hippie na aldeia-serra de nome “Mimoso”. Do inicial estranhamento da enorme
liberdade das jovens, logo Theo se encanta com meninas tão doces e naturais, e relaciona-se
com elas como um paizão papo aberto e ombro amigo. A beleza do encontro é
mostrar apenas um adulto experiente e meninas ricas de espírito compartilhando
instantes fundamentais de pausa na vida comum e cotidiana, quase sempre
sufocante. E é através das meninas, que estiveram com seu filho em fuga, que ele
percebe outros sentimentos e paixões do seu garoto.
É também junto
das meninas, sem julgá-las ou condená-las por estarem vivendo uma utopia hippie
passageira, que Theo aprende o que é ser um pai de verdade: aberto e disposto
ao diálogo e a ouvir as jovens, ele descobre muito do que deve se passar no
coração e anseios do filho. Descobre também, ao juntar as pistas e pegadas do
filho, uma força que desconhecia no garoto, que se vira sozinho para dormir, se
alimentar e seguir em frente na sua longa e árdua jornada em busca do avô.
Após a poesia
de Mimoso, um novo homem-pai surge e a viagem-saga torna-se ainda mais delicada
e profunda, e sentimos que, diferente de tantos filmes e seriados mórbidos e
sedentos de sangue, a história caminha para um final ainda redentor. Porque a
linha-sentimento condutor de A Busca
é a esperança e fé nos outros, a amizade, amor familiar e amadurecimento. Bem
diferente da expectativa e comentários idiotas de uma família abastada
– pai saradão, mãe perua e dois garotos “blasés” - que cruzei na
saída do filme. A sequência de comentários deles é um triste sinal da
insensibilidade, falta de imaginação e dificuldade para decodificar símbolos.
Talvez porque essa família representa boa parte de nossa sociedade que adora
reality shows e ficções violentas e/ou trancar-se em seu mundinho de luxo, prazeres
tecnológicos, vaidades e medo: “Até parece que um pai ia sair assim, procurando
o filho em vez de chamar a polícia”; “Achei que o menino ia ser sequestrado”;
“Nenhum adolescente foge assim, ainda mais a cavalo”; “o filme é chato”.
O festival de
baboseiras de uma família que esperava um filmeco de ação e sangue não parava.
Chato é perceber que pessoas com tantas condições financeiras serem tão
ignorantes e incapazes de perceber as lições e belezas deste filme.
A outra
produção, o francês Sejam muito
bem-vindos, mostra o encontro, em plena fuga de ambos, de Taillandier, um
pintor de sucesso que não têm mais motivação para fazer sua arte e viver, e Marylou,
uma adolescente que sofre com a violência do padrasto e a submissão da mãe a
ele.
O filme é outro
que aborda temas pesados, como a depressão do artista sessentão, e a violência
doméstica, pedofilia (essas duas últimas são apenas sugeridas, não mostradas)
sem apelar para o recurso fácil e torpe de chocar o público. Pelo contrário, o
inusual encontro em plena rua do pintor com a menina vai se tornar uma sucessão
de trocas de experiências e afetos poderá salvar a dupla. E será através do
senhor desconhecido, mas um artista adormecido e homem bom, e da menina rebelde
sofrida, mas ainda com esperanças de reencontrar a paz familiar, que ambos
serão tocados por um raro mas poderoso amor entre estranhos. Um amor de pai e
filha de vida que a realidade colocou no caminho do outro.
Todo aquele que
já recebeu o presente de alguém especial que a vida colocou em seu caminho em
um lugar e momento inesperado, para lhe ensinar ou dar forças, saboreará como
uma gostosa refeição caseira para a alma esse filme. Conduzido com a mesma fonte
delicada e poética de A Busca, o francês Sejam
muito bem-vindos nos lembra ainda que, para nos reerguer, precisamos estar
abertos às mãos que tentarão nos amparar. Basta que
as aceitemos.
Todavia, como o
pintor que explica à jovem que um artista não precisa ver uma modelo para
desenhar suas formas, “basta imaginá-las”, é preciso às vezes fechar os olhos e
abrir o coração para que encontremos forças, inspiração e lucidez dentro de nós
mesmos. É isso também que o mestre Taillandier ensina à jovem Marylou, depois
dela lhe ensinar que ele não podia “ir embora” (o pintor depressivo fugiu de
sua casa e família com um rifle no porta-malas do carro), pois ela estava
aprendendo muito com ele. Aprendendo sobre arte e, valorizando o afeto,
proteção e interesse do senhor para que ela fosse feliz de novo.
O outro lado é
o que Marylou dá ao velho Taillandier e aqui o cineasta francês Jean Becker nos
oferece a mesma nobreza de espírito do filme brasileiro: bela e sedutora
fisicamente, e desconhecendo isso como a jovem desencanada que é, a personagem
da menina poderia suscitar sentimentos torpes e doentios no velho pintor. O que
prevalece, porém, é algo bom, captado com perfeição pelo crítico Orlando
Margarido: “(Marylou) mal tem ideia de sua atração, do belo corpo que se impõe.
Não será por essa via da sedução, a mais óbvia e apenas implícita com sutileza
pelo filme, que Taillandier se deixará envolver. Marylou é sua musa inspiradora
e como tal representa a beleza ainda da pureza possível.”
Há sempre
várias descobertas na estrada. Sobretudo quando a viagem e a fuga são
tentativas de nos (re)encontrar com o que há de mais genuíno e bonito em nós
mesmos.
*Magníficas as atuações de Wagner Moura
(nos faz crer em cada aflição, alegria e descoberta do pai que aprende a ser
pai) e, especialmente, de Lima Duarte (o pai ausente e o avô terno e
arrependido que luta por uma última chance de voltar à sua família) em A Busca. Da mesma dimensão é a
viagem tão triste ou alegre, sofrida ou apaixonada dos atores franceses Patrick
Chesnais, monstro que revela muito em um simples olhar, e a jovem revelação Jeanne
Lambert, de beleza morena tão selvagem quanto doce.
quarta-feira, abril 03, 2013
Exílio de mar, saudade de viver
Ando
desesperado por janelas. Nos cafés e padarias, nas salas da escola, no
escritório montado na casa dos velhos que dá para o quintal, na janela da sala
do apê que dá para as árvores. As janelas são minha linha do horizonte aqui
nesta cidade sem mar. Aqui nesta vida sem mar há mais de seis meses, graças ao
problema na coluna e à incompetência de médicos, reumatologistas, fisiatras e
fisioterapeutas (sim, passe i por todos e por diversos tratamentos).
As janelas são
minhas viagens para os olhos tentarem enxergar e sentir mais longe. São a curta
mas essencial liberdade aqui na cidade que substituiu o horizonte por paredes
de concreto.
O concreto que
machuca e até mata o espírito, pois as maiores belezas da vida são abstratas.
Abstratas como o horizonte que visualizamos na praia: na verdade ele não existe
fisicamente, mas existe em nosso coração
e mente que se alarga ao observá-lo.
Por isso a
cidade sem mar machuca por nos aprisionar nesses limites duros, cinzas,
concretos.
Além da morte
do horizonte, a cidade matou também a terra. O solo natural que também foi
entupido do concreto cimento ou asfalto. Matou até o tato de nossos pés, presos
em sapatos e tênis, e impedidos de namorar nus o chão em que pisamos. Por isso
a saudade é grande também do tapete mais belo e gostoso, a areia da praia.
A areia fria, a
areia fofa, a areia molhada, a areia viva, as areias escaldantes. A areia que é
o chão que gosta de contar histórias nas nossas pegadas. Essa areia que
descansa o corpo e a alma e ainda é parte essencial dessa imensa tela de
liberdade chamada praiamar.
Praia e mar. Para
amar mais a vida.
A areia que é
parte essencial do gostoso e sagrado ritual do surfista que chega na praia. É
ali que chegamos depois de estacionarmos o carro que se livrou da cidade e da
estrada. É dali que lançamos nosso olhar ávido por mar, ondas e viagens
surfísticas paredes marinhas afora compartilhadas com aqueles que, mais que
irmãos, são brothers. É ali, de pé olhando com a mesma fé inversa à do
marinheiro buscando terra enquanto navega; ou sentado, alongando e rezando
antes de termos a graça e permissão de entrar no grande templo oceânico; é ali
que sonhamos em estar lá dentro.
Lá dentro, na
casa mais bela, no lar mar; lá onde amar a vida alcança uma de suas
intensidades máximas; lá onde o clichê do “aproveitar cada instante” torna-se
tão real e possível. Basta uma session. Até menos: basta uma onda que estamos
preenchidos como o fiel que recebe a graça das graças, como o morto que
renasce, como o homem urbano massacrado, ferido, que tem todas as suas dores e problemas
curados em uma única onda.
E há outros
elementos poderosos, alimentos vitais, que também fazem falta demais. Há o
vento e a brisa. Há a maresia, esse caso de amor entre o vento e o mar, essa sinfonia
do vento a nos trazer os cheiro e sabor do mar. Há o sal, essa partícula tão
benéfica quanto viva, mágica e sentimental pois é da mesma família do suor e
das lágrimas. Há esse sal que penetra nossa pele e ossos lavando tudo junto das
águas oceânicas.
Há a imensidão
da cena praiana e marinha que nos faz sonhar apenas por estarmos ali e de olhos
abertos.
E há, meu Deus,
as ondas.
As ondas. Mas
dessas já falei demais em muitos textos. Um breve resumo? As ondas são o
produto final do poderoso ciclo praiano-marinho. São a síntese, a catarse, a
explosão final de energias que vão se somando e amalgamando até surgir a maior brincadeira
e viagem que a natureza um dia inventou para oferecer a nós, os homens e
mulheres que se apaixonaram a vida máxima
que é andar sobre as águas amparados, impulsionados, abraçados por elas.
As águas. As
ondas. As muitas vidas que podemos viver em uma única onda sem fim.
* Basta. No dia
do trabalho estarei na antítese da labuta e cidade sem mar que nos consome. Nem
que a coluna permita apenas alguns jacarés, estarei lá dentro. Pois jacarés
também são frutos delas. Elas, as mais
belas sereias. As ondas que são vidas e fazem de surfistas viajantes e senhores
do tempo. Que outro ser consegue mudar as concepções e durações do tempo como o
homem que sente que segundos surfados são horas, dias e até vidas?
** A foto que ilustra esse post é de Taghazout
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